Silagem pré secada – O segundo volumoso da dieta de vacas leiteiras

29 Mar 2023

Silagem pré secada – O segundo volumoso da dieta de vacas leiteiras.

Prof. Dr. João Ricardo Alves Pereira

Univ. Estadual de Ponta Grossa-PR

Vitalle Nutrição Animal

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As regiões com maior oferta de leite são também, em geral, aquelas que apresentam sistemas de produção mais intensivos em capital e média maior de vacas por fazenda. A intensificação e maior produtividade por vaca têm trazido novos desafios para a atividade. Com a saída da atividade de produtores com menor volume de leite, o resultado é um considerável crescimento da média de produção de leite por fazenda no Brasil. Além disso, o produtor passou a se defrontar com a escassez e o encarecimento da mão de obra no campo e valorização da terra. Além desses, outros desafios se impõem ao produtor, tais como custo de produção (alimentação e energia), impacto ambiental da atividade com foco na qualidade da água, bem estar animal e qualidade do leite produzido. Assim como em outras economias desenvolvidas, o produtor vem buscando eficiência, produtividade e escala de produção (Embrapa, 2019).

A alimentação de vacas de leiteiras é um grande desafio. Esses animais têm alta exigência em energia, cerca de cinco vezes maior que a de proteína. Por outro lado, necessitam de forragem na sua dieta numa quantidade suficiente estimular a mastigação, ruminação, salivação e a motilidade ruminal. A redução nesses estímulos reduz a produção de saliva que é rica em elementos tamponantes, cuja falta resulta em queda de pH ruminal que, dependendo da intensidade, pode levar à acidose subclínica, com variação no consumo de matéria seca, teor de gordura no leite e, em casos mais graves, em timpanismo e laminite. Para os nutricionistas é um desafio formular dietas visando maximizar a produção de leite, uma vez que o atendimento da exigência em fibra caminha no sentido contrário da densidade energética da dieta. Assim, a formulação de dietas é em muito favorecida quando se têm forragens de alta qualidade disponível, uma vez que, além de auxiliar nas funções físicas ruminais essenciais, seu maior conteúdo energético reduz a demanda por alimentos concentrados, geralmente os de maior custo na propriedade.

 

Silagem pré-secada

Na grande maioria das dietas utilizadas no Brasil a silagem de milho é principal fonte de fibra e o gerenciamento do tamanho de partícula na colheita, muitas vezes, é a forma que se tem para a forragem ter maior efetividade na ruminação pelas vacas. No entanto, esse aumento no tamanho do picado da silagem de milho, sem a devida regulagem e maquina apropriada, tem resultado em grandes perdas de grãos por falta de processamento.

Assim, a inclusão de uma segunda fonte de forragem nas dietas se faz essencial quando buscamos maiores produtividades. Os processos para conservação de forragens (capins e leguminosas), geralmente, são:

Fenação: processo no qual a forragem é conservada após sofrer processo de desidratação onde se reduz o teor de umidade de 80 a 85% para 12 a 15%, por meio de operações mecânicas, de modo a conservar o máximo possível o seu valor nutritivo original.

Silagem pré-secada ou pré-secado: alimentos volumosos, conservados com umidade entre 40 e 60%, sob fermentação e crescimento microbiano limitado, em ambiente anaeróbio.

A ensilagem é um processo de conservação de forragem que tem como objetivo final preservar forragem de alto valor nutritivo com o mínimo de perdas. No processo, basicamente, carboidratos solúveis são convertidos em ácidos orgânicos pela ação de microrganismos, que encontrando ambiente anaeróbio ideal proliferam e criam condições adequadas à conservação. Contudo, a ensilagem de plantas forrageiras que apresentam matéria seca (MS) inferior a 20% e poucos carboidratos solúveis os riscos de deterioração são maiores, tornando-se fundamental o uso de recursos que, de alguma forma, modifiquem esta situação. A pré-secagem ou emurchecimento permite a ensilagem de plantas forrageiras com teores mais elevados de umidade, num processo relativamente simples onde fermentações indesejáveis são controladas.

As forrageiras mais utilizadas para produção de silagem pré-secada são as gramíneas de clima temperado aveia, azevém, triticale e cevada; e mais recentemente gramíneas tropicais como as espécies do gênero Cynodon como os “tiftons”, "coast-cross"; algumas braquiárias e mesmo panicuns. Dentre as leguminosas somente a alfafa é utilizada em quantidade expressiva.

De maneira geral, as leguminosas são mais nutritivas do que as gramíneas de clima temperado que por sua vez apresentam melhor qualidade que as de clima tropical.

O corte das plantas forrageiras destinadas a ensilagem deve ser feito no estágio vegetativo, ocasião em que a planta se encontra no seu “ponto de equilíbrio” entre produção de matéria seca e qualidade nutricional.  Quando a forragem é cortada e espalhada no campo para secar a perda de umidade é intensa nas plantas ainda vivas, uma vez que o caule e as folhas foram separados das raízes e a umidade perdida não é reposta, começa então o murchamento. Após o fechamento dos estômatos 70 a 80% da água deverão ser perdidos através da superfície da planta, fazendo com que a exposição ao sol, baixa umidade relativa e a circulação de ar dentro da leira sejam essenciais. A terceira etapa se inicia quando a umidade da planta atinge cerca de 45%, sendo esta etapa mais sensível às condições climáticas do que as anteriores, principalmente à umidade relativa do ar. É nessa etapa, ou próximo a ela, que a forragem é recolhida e ensilada, daí a sensível redução nos riscos de perda de qualidade da forragem conservada ensilada em relação ao feno.

Para acelerar a taxa de desidratação da planta as práticas de viragem e revolvimento com ancinhos enleiradores e espalhadores são de importância fundamental no processo de secagem, principalmente nas primeiras horas após o corte, de modo a reduzir a compactação e proporcionar maior circulação de ar dentro das leiras, acelerando a transferência de umidade das plantas para o ambiente.

O uso de segadeiras condicionadoras reduz o tempo de secagem das plantas forrageiras, devido ao aumento da perda de água pelo caule. Porém, para forragens que foram submetidas a algum tipo de condicionamento mecânico as perdas decorrentes da ação da chuva sobre a forragem podem ser de maior intensidade, devido ao fato de que compostos solúveis de alto valor nutritivo são arrastados, podendo haver grandes perdas desses nutrientes.

O recolhimento e picagem da forragem deve ser feito quando o teor de matéria seca está entre 40 a 60%. O tamanho de corte deve ser definido em função da finalidade do seu uso na dieta e se haverá ou não processamento posterior dessa forragem, como a repicagem em vagão misturador (mixer). As plataformas para recolhimento podem ser um gargalo operacional. Atualmente no Brasil são encontradas plataformas “adaptadas” para ensiladeiras de milho, que tem capacidade limitada para recolhimento em áreas maiores. Outra opção é a terceirização dos serviços com máquinas automotrizes, que nem sempre estão disponíveis na região ou o custo fica muito elevado em função da pouca quantidade a ser recolhida.

Assim como para silagem de milho, no processo de ensilagem de pré secado em silos trincheria ou superfície  a retirada de ar da massa ensilada, por meio de compactação intensa, é fundamental para a redução da respiração e do aumento de temperatura na massa, que têm como consequência principal a perda de energia na forma de calor. Além de trator(es) pesado(s), favorece a boa compactação a distribuição da forragem em camadas finas. O fechamento do silo deve ser feito com lona plástica adequada, com maior espessura e com “protetor” da ação do sol, no caso de lonas brancas.

Outra técnica que vêm sendo bastante difundida no Brasil é a ensilagem de forragem pré-secada em silos fardos redondos (400 até 1.000 kg) revestidos com plástico especial. Este processo viabilizou a comercialização de volumosos pré-secados, tornando-a uma opção interessante tanto para o agricultor, que passou a ter mais uma opção de renda, vendendo a forragem e/ou produzindo em parceria com terceiros, como para o pecuarista, que pode adquirir alimentos volumosos com qualidade e na quantidade desejada. Como vantagens o produtor tem uma maior especialização da propriedade, focando seus esforços e investimentos naquilo que realmente é de sua competência.

 

Como conclusão, para a produção de silagem pré-secada deve-se levar em consideração os seguintes fatores:

    • O processo tem como vantagem, em relação a fenação, a redução do tempo de secagem e dos riscos de perdas no campo;

 

    • Preserva melhor a qualidade da forragem colhida com níveis mais elevados de umidade;

 

    • É necessário estabelecer espécies forrageiras produtivas adaptadas às condições climáticas locais e colher a forragem no estádio de desenvolvimento adequado, de modo a se obter maiores produtividades de matéria seca de maior valor nutritivo;

 

    • Deve-se proporcionar condições ideais ao processo de fermentação durante o armazenamento, com atenção especial ao teor de matéria seca da forragem e a compactação durante a ensilagem;

 

    • Adotar, se necessário, o uso de aditivos para melhor conservação, sempre levando-se em consideração o custo final dos nutrientes na forragem armazenada;

 

    • Adotar técnicas de manejo e equipamentos adequados de modo que sejam minimizadas as perdas durante a retirada e o fornecimento da silagem aos animais.

 

    • A aquisição de pré secado de terceiros de acordo com a demanda e qualidade exigidos em cada propriedade pode ser uma excelente alternativa, por imobilizar menos recursos em máquinas e equipamentos, destinar a área de produção à outras culturas, como o milho, e ter a segurança da disponibilidade de um segundo volumoso na dieta durante o ano todo.



 

 

 

 

 

 

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